quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Antecedentes

A tradição de lutas por autonomia política na Bahia remonta à Conjuração Baiana (1798), às lutas pela Independência da Bahia (1822-1823), à Federação do Guanais (1832) e à Revolta dos Malês (1835).

Durante o Período regencial (1831-1840), o conflito se estabeleceu em torno da questão da centralização monárquica e do federalismo republicano, mobilizando principalmente setores das camadas médias urbanas - comerciantes, profissionais liberais e oficiais militares.

Os ânimos na capital baiana se acirraram com a renúncia do Regente Diogo Antônio Feijó (1834) e o projeto da lei de interpretação do Ato Adicional, cuja discussão se arrastou de 1837 a 1840.

Sabinada

A Sabinada foi um movimento que teve início em 1837, cuja liderança não era de cunho popular, e sim, aristocrata. Seu principal lider foi médico Francisco Sabino da Rocha Vieira, que em seu jornal, Novo Diário da Bahia, criticava o governo dos regentes e o presidente da província, convocando o povo a separar a Bahia de todo o Brasil e organizar uma república com caráter provisório, até a maioridade de Dom Pedro de Alcântara (futuro D. Pedro II).
Após um tempo de total insatisfação proclamaram a república e a independência, enquanto o imperador não ficava maior de idade.
Vieram as tropas do Rio de Janeiro, os juízes do governo diziam que para melhorar a situação era preciso matar os rebeldes (“É preciso aplacar a poeira da revolução com o sangue dos rebeldes). Quase dois mil rebeldes morreram.
A repressão foi forte por anteriormente ter ocorrido outras revoltas em Salvador.
O governo ficou apreensivo por conta do exemplo das revoltas passadas. Além do mais, a Sabinada tinha uma grande ideologia, pois era baseada nos valores revolucionarios franceses.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Massacre em Salvador

Rebeldes da Sabinada tomaram o poder e proclamaram a república na Bahia, mas pagaram um preço bem alto por tamanha ousadia


Os 5 dias 13, 14 e 15 de Março de 1838 foram os mais sangrentos da historia da cidade de Salvador Nuvens de fumaça de mais de sessenta prédios incendiados escureciam o ar. Desesperados, soldados e oficiais rebeldes, acossados pelas forças imperiais, abandonaram seus postos e largavam os uniformes pelas ruas; outros arrombavam vendas e botequins, de onde saiam bêbados e sem rumo. Chegava ao fim a Sabinada - o mais bem-sucedido movimento armado urbano entre todos os que afrontaram o poder central no tempo da Regência. Os revoltosos haviam assumido o controle de Salvador, então a segunda maior cidade do Brasil, quatro meses antes. Agora, vencidos , caiam por terra em meio a um verdadeiro massacre.
“Uma testemunha ocular relatou que, nesses dias de caos, rebeldes eram assassinados “mesmo depois de deporem as armas”, e que muitos, depois de presos,” eram fuzilados de súbito”, sem nenhuma piedade. Segundo o general que comandou o assalto final em Salvador, o salto foi 1.091 mortos entre os rebeldes, contra 40 baixas entre os soldados legalistas.
De tão eufóricos com vitória, os rebeldes não esperavam, decerto, um final tão trágico na noite de 6 para 7 de novembro de 1837, quando tomaram o poder. Haviam realizado tal façanha, a bem dizer, pacificamente, sem perda de vidas. Após derrubarem o governo provincial, oficiais de artilharia e de infantaria, aliados e exaltados (adeptos de uma versão radical do liberalismo), fizeram uma reunião na Câmara Municipal, quando declararam a Bahia “inteira e perfeitamente desligada do governo denominado central do Rio de Janeiro”.
Prometiam convocar eleições e uma Assembléia Constituinte para deliberar sobre a organização política da nova republica independente. Elegeram como presidente Inocêncio da Rocha Galvão e comovice-presidente, João Carneiro da Silva Rego. Apesar de ser apenas o secretario do novo governo, o medico jornalista Francisco Sabino Álvares da Rocha Vieira (1796-1846) era o principal lider político do movimento, e acabou dando seu nome a revolta.
Embora a Sabinada fosse vista pelo outro lado como uma grave ameaça a unidade nacional brasileira, a monarquia do jovem D. PedroII (que assumira o trono 1841), os rebeldes não cogitavam, na verdade, uma ruptura com o governo central. Quatro dias depois da declaração da independência, a liderança modificou-a, no sentido de limitar a independência (e a república) até o fim da minoridade do imperador, que faria dezoito anos no dia dois de dezembro de 1843. Declaração curiosa de uma independência temporária, ela significava que os sabinos não eram, em si, separatistas. Não se queixavam de pertencer ao Brasil; queixavam-se do governo do Império.
A renuncia do regente eleito, Diogo Antonio Feijó (1784-1843), em setembro de 1837, justificava a revolta, pois Feijó era bastante simpático ao federalismo, e Sabino temia que o novo governo imperial diminuísse a autonomia provincial. Nas paginas do seu jornal, o novo Diário da Bahia, ele condenava os impostos, que so beneficiariam a Corte. Exaltados como Sabino insistiam na igualdade jurídica entre os homens livres; condenavam a dominação da sociedade por uma pequena elite e criticavam o despotismo e a tirania das autoridades.
Embora a Sabinada fosse considerada um movimento separatista que ameaçava a unidade nacional, os rebeldes não pensavam em romper completamente com o governo e o império
Eram também patriotas, que repetidamente fustigavam os portugueses que dominavam o mercado varejista de Salvador.


Os militares, além de pertencerem, em sua maioria, à classe urbanapobre, tinham suas próprias queixas profissionais. A redução de efeito militardesde 1831 deixara muitos oficiais desempregados. A Guarda Nacional, com seus oficiais eleitos, criada naquele mesmo ano, parecia uma tentativa de substituir o Exército por uma força civil. Ademais, a criação da Guarda implicava a abolição da milícia colonial. Organizada desde o século XVIII com batalhões segregados de brancos, pardos e pretos, a milícia ainda era uma instituição forte na década de 1820. A grande maioria de seu efeito era constituída de homens negros (pardos e pretos), e seus oficiais negros eram líderes populares importantes.
Alguns deles, como Francisco Xavier Bigode (1772-1838), tenente-coronel do batalhão “dos Henriques” (assim alcunhado em homenagem a Henrique Dias, herói negro das guerras contra os holandeses no século XVII), apoavam a monarquia de D. Pedro I, mas, com a extinção da milícia em 1831, ficaram desempregados, começando a questionar o regime imperial, que, na sua opinião, os tratava com desdém. Dessa forma, a Sabinada foi uma aliança de liberais radicais (exaltados), militares do Exército e a milícia negra da cidade, fortementeapoiada pela população livre de cor. Depois de promover os oficiais e de aumentar os salários dos soldados, a Sabinada aboliu a Guerra Nacional e chamou os milicianos para a defesa da república. Bigode voltou assim à ativa e comandou uma batalhão de soldados negros, muitos deles ex-milicianos.
Uma vez vitoriosa, a liderança da Sabinada fazia pouco, mas falava muito. Reiterava suas queixas contra o Rio de Janeiro, mas também enfatizava seu “amor à ordem”. Prometia preservar a propriedade privada, inclusive a escravidão, e sustentar a lei, a monarquia e a religião. Era uma tentativa de aliciar o apoio mais amplo possível, mas um esforço vão, pois a classe senhorial baiana fechava os ouvidos aos apelos sabinos, e as classes populares dominavam cada vez mais a revolta.
Assim que começou a Sabinada, a classe alta de Salvador fugiu para o Recôncavo.

O presidente da província e as demais autoridades civis, militares e religiosas logo articulavam uma reação entre senhores de engenho da região, e o governo imperial mandou as poucas tropas disponíveis. Gradativamente, começaram a bloquear a cidade por terra e por mar.

Em meados de Janeiro de 1838, o vice-cônsul britânico relatou que a população restante era “inteiramente de cor, com exceção do estrangeiros”. Para ele, a Sabinada apresentava “mais uma guerra de base racional do que por qualquer outra razão”. De fato, os escravos baianos (mais de 40% da cidade) não demoraram a entrar em cena. Muitos fugiam dos seus senhores e tentavam alistar-se nos batalhões da Sabinada. Alguns oficiais aceitaram esses voluntários, mas soldados livre se recusaram a servir ao lado dos escravos. Para resolver a crise, o governo rebelde criou um novo batalhão, o “Libertos da Pátria”, do qual serviriam os escravos crioulos, isso é, nascidos no Brasil. O novo batalhão excuía a maioria dos escravos – os nascidos na África. Africanos eram considerados estrangeiros perigosos, ainda mais depois da revolta dos Malhês, janeiro de 1835, e não havia lugar para eles nas lutas poíticas entre brasileiros.

Em meados de fevereiro, a Sabinada tentou furar o cerco das forças imperiais, mas o ataque malugrou. A precária ordem mantida pelo governo deu lugar à anarquia. O vice-presidente avisou ao vice-consul britânico que “não tinha mais controle” sobre os soldados e a multidão. Os ataques aos portugueses que ainda restavam na cidade se tornaram cada vez mais violentos. Um médico inglês que permaneceu em Salvador descreveu a “enfurecida turba negra e mulata” que aterrorizava todos os estrangeiros. Face à inevitável derrota, alguns oficiais abandonaram seus postos. Outro tentaram radicalizar o movimento. José de Santa Eufrásia, um major da milícia negra, declarou que “deveriam ser os negros que governassem a República”.

Incapazes de resistir, as forças da Sabinada cederam na manhã do dia 13 de Março, e em três dias os legalistas estavam de posse da cidade. A maioria das vítimas do massacre eram, sem dúvida de homens pobres e negros que lutavam pelos ideais iberais do movimento. Não foram poupadas as vidas dos íderes negros. Logo depois de se render, Bigode foi assassinado; apesar de ferido, Santa Eufrásia se escondeu por um mês e suicidou-se logo depois que foi preso.

Além dos mais de mil mortos, quase três mil pessoas foram presas; mais de 1.500 foram logo deportadas para o Sul, alistadas como recrutas do Exército. Outros presos foram degradados para a Ilha de Fernando de Noronha. Os líderes civis e militares da Sabinada, inclusive o próprio Sabino, foram condenados à morte, por incitarem escravos à rebelião e por homicídio. Só escaparam da forca porque em 1840 D. Pedro II anistiou todos os rebeldes que lutaram contra o seu governo. Sabino e mais quatorze líderes receberam anistias condicionais desde que morassem longe de Salvador (Sabino foi mandado para Goiás).
Um oficial do Exército que participou do movimento e depois o renegou explicou: “Na verdade, a revolução não foi iniciada pela plebe, porém, no fim a canalha ditava a Lei e os negros com seus batalhões e todos amedrontavam”. Dessa forma, a Sabinada ameaçou explicitamente as hierarquias sociais e raciais da sociedade imperial. E pagou um preço bem alto pela extrema ousadia.